Como assim, COVID-19 e privilégio no mesmo título?

Apesar deste momento histórico ter uma conotação bastante negativa, tendo em vista diversas áreas e vidas prejudicadas e perdidas, vivemos, concomitante a este cenário catastrófico, um momento de privilégio para a transformação da educação, visando as necessidades do século XXI.

A educação brasileira clama por transformações há muito tempo. A reinvenção da escola e do currículo escolar têm sido necessidades urgentes, porém negligenciadas pela falta de tempo para o repensar das práticas pedagógicas, diante do montante de demandas da vida cotidiana escolar.

Este momento de pandemia fez com que toda a nossa sociedade fizesse uma pausa, pelo menos nos primeiros dias de incertezas deste cenário, para que repensássemos a forma como existimos e como nos relacionamos, seja entre os nossos pares, com o meio e com o mundo. Tivemos que nos reinventar. 

Repensar nossas jornadas, adaptar tarefas, buscar novos conhecimentos e construir novas formas de fazer o cotidiano. Seja sobre ir ao mercado, trabalhar em casa, estudar, cuidar e educar os filhos, até o reorganizar dos afazeres domésticos. E, já que estamos falando sobre a realidade brasileira, quando olhamos pelo prisma da educação, sabemos que ela é feita, em sua maioria, por mulheres, que carregam, muitas vezes sozinhas, a responsabilidade da gestão de todas essas demandas, em decorrência da nossa construção social embasada no modelo patriarcal. Ficou pesado.

Seria enganoso pensar que, enquanto profissionais da educação, estamos trabalhando menos por estarmos em casa. Ao contrário. Por estarmos no famigerado home office, estamos trabalhando muito mais, porém, agora, temos mais liberdade para organizarmos nossos tempos e identificarmos nossas prioridades. E, por falar em prioridades, agora saindo desta reorganização da vida pessoal e pensando na reorganização da educação, estamos em um momento privilegiado para colocar em prática os novos currículos construídos com a perspectiva trazida pela BNCC.

Para isto, é importante falarmos sobre o óbvio. E o óbvio, mas nem tanto, é o darmo-nos conta de que quem faz a educação somos nós educadores e educadoras. Somos nós quem acordamos todos os dias para, não mais transmitir conteúdos, mas nos relacionarmos com os nossos educandos, objetivando a transformação social a partir da transformação da realidade de cada um de nós, componentes desta comunidade escolar. E, por falar em relações, foram estas que mudaram com a chegada da COVID. Estamos reaprendendo a nos relacionar, utilizando toda tecnologia disponível no século XXI para nos aproximarmos neste momento de distanciamento físico.

O que estamos chamando de ensino híbrido, pasmem: é igual aquele ensino semipresencial que já conhecemos. Não há mistério, por mais derivações de nomenclaturas que criemos neste momento. O diferencial deste “novo” método, é que agora as nossas relações humanas estão mais adaptadas ao modelo digital e virtual. Enquanto o modelo semipresencial que conhecíamos estava recheado de conteúdos teóricos, com esta nova forma de nos relacionarmos podemos deixá-lo mais humano, prático e palpável.

Por estes motivos, a nossa conversa de hoje é sobre o currículo. Independentemente da forma, método e abordagem, o essencial para este momento é sabermos onde queremos chegar com a educação. Nós construímos estes caminhos e continuaremos construindo, cada um vivenciando e fazendo escolhas de acordo com a realidade em que está inserido ou inserida. E para isso, precisamos saber o que os nossos educandos precisam e querem aprender, por isso a importância de sermos educadores pesquisadores, de teorias, legislações e realidades.

Sabe aquela chamada de vídeo que você tem feito com a família para matar a saudade? Faça com os seus educandos também. Sem cobranças, sem conteúdos a serem “passados”, numa perspectiva humana para outra perspectiva humana. Utilize deste momento para conhecer esta nova realidade, pesquisar os conteúdos disponíveis na internet, saber o que os educandos estão acessando – provavelmente seja sobre o que eles têm interesse – e isso é o que deve ser o objeto de estudo: o que for do interesse deles. A partir daí, podemos percorrer o mundo inteiro, as DCNs e a BNCC permitem. 

Não aprofundaremos neste texto o que é o currículo, tampouco o que a BNCC traz como direitos de aprendizagem. Essas informações estão a um clique de distância desta página que você está acessando, é só dar uma googleada. O objetivo aqui é pensarmos e aproveitarmos estas novas formas de relação para nos aproximarmos dos interesses dos educandos – motivo da existência da educação – para que, assim, proporcionemos situações de aprendizagem como elas realmente devem ser: ativas, significativas, intencionais e protagonizadas pelos principais atores da aprendizagem – os aprendizes. E estes somos todos nós.

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Obs.: Vou deixar registrado aqui alguns links que penso ser pertinentes para pesquisa, visando a construção de novos conhecimentos para transformarmos a educação, considerando as necessidades do século XXI.

Organize um tempinho do seu dia e explore estes conteúdos. Mas claro, exercitando este novo olhar. O presente, que constrói o futuro, está nas nossas mãos. Estamos juntos e juntas, cada vez mais em rede. Vamos transformar?

 

 

Obs. 2: Aqui eu deixo alguns materiais audiovisuais do Rapper Emicida, para você ouvir com atenção – de preferência utilizando um fone de ouvido – para ampliar a visão sobre como a interdisciplinaridade existe na vida cotidiana. A partir da palavra, da história e da autorrepresentação, podemos percorrer o mundo e tudo que o compõe. Está tudo relacionado. Experimente:

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